Para entender a tragédia de um conflito sem fim, às vezes é preciso abandonar os generais e os políticos e ouvir as crianças.
É esse o gesto de uma simplicidade demolidora que faz de “Promessas de Um Mundo Novo” (2001) um dos documentários mais comoventes e politicamente potentes já realizados. O filme nos leva para o epicentro do conflito israelense-palestino, mas nos recusa o mapa geopolítico tradicional. Em vez disso, ele nos oferece um mapa dos corações de sete crianças que vivem a poucos quilômetros umas das outras, mas separadas por muros visíveis e invisíveis. Nós somos convidados a assistir não a um debate, mas a um réquiem, um lamento profundo pela inocência roubada e pela paz que parece cada vez mais uma promessa quebrada.
O filme nos apresenta a seus jovens protagonistas e, através deles, nós vemos o conflito não como uma abstração, mas como o ar que se respira.
Conhecemos os gêmeos seculares israelenses Yarko e Daniel, o colono judeu ortodoxo Moishe, e do lado palestino, Sanabel e Faraj do campo de refugiados de Deheishe, entre outros. Eles não são telas em branco. Suas falas já carregam o peso da história, as narrativas de dor, direito e desconfiança que aprenderam com suas famílias e comunidades. Nós vemos crianças que brincam e sonham como quaisquer outras, mas que também falam de postos de controle, prisões e direito divino à terra com uma naturalidade assombrosa. O luto do filme começa aqui, ao testemunhar uma infância que nunca teve a chance de ser neutra.
A promessa de um mundo novo, o coração luminoso e frágil do documentário, se materializa quando o cineasta B.Z. Goldberg consegue organizar um encontro entre algumas das crianças de ambos os lados. Por um breve e mágico momento, os muros desabam. Yarko e Daniel cruzam para o campo de refugiados para conhecer Faraj e Sanabel. A estranheza inicial rapidamente dá lugar a uma conexão genuína, alimentada por jogos, comida e uma curiosidade mútua. Nós vemos a prova irrefutável de que, despida da retórica herdada, a humanidade compartilhada floresce de forma espontânea. Nesse encontro, a paz deixa de ser um conceito político e se torna uma tarde de risadas entre crianças.
É a realidade externa que, de forma implacável, destrói essa ponte.
Realizado durante o colapso dos acordos de paz e o início da Segunda Intifada, o filme captura como a escalada da violência torna a continuidade desses encontros impossível. A cena final com Faraj é talvez a mais desoladora. Ele, que se conectou tão bem com os meninos israelenses, afirma que não pode mais ser amigo deles enquanto seu povo não for livre. Sua decisão não é sobre ódio pessoal, é sobre uma consciência política dolorosa, a compreensão de que a amizade verdadeira exige uma igualdade que a ocupação lhe nega.
Nós entendemos a tese mais triste do filme: o afeto individual, por mais sincero que seja, é esmagado sob o peso das estruturas do conflito.
“Promessas de Um Mundo Novo” é um réquiem porque seu sentimento predominante é o de perda. Ele não oferece soluções, não aponta culpados, apenas nos senta ao lado de suas crianças e nos faz sentir o peso do mundo que elas herdaram. O filme chora pela paz que não veio, mas seu luto mais profundo é pela infância que foi sacrificada no altar de uma guerra de adultos.
A promessa do título paira sobre o final do filme não como uma certeza, mas como a mais frágil e assombrada das esperanças.
P.S.: Apesar de tê-lo incluído na categoria de produção cinematográfica americana, também houve coprodução palestina e israelense.